Privar, a qualquer preço, a criança do desprazer durante o primeiro ano de vida é tão nocivo quanto privá-la de afeto. Os dois cooperam para a formação do equilíbrio psíquico. A ausência da atuação de um desses sentimentos leva-a a um desequilíbrio, com a predominância indesejável de um destes dois pólos da vida humana, o sucesso e o fracasso. Não podemos negar que as frustrações são impostas pela própria natureza e que auxiliam no desenvolvimento da personalidade para se adaptar e vencer as dificuldades que a vida progressivamente impõe.
As seguintes frustrações, impostas no primeiro ano de vida, não podem ser evitadas pelos pais. Você pode tentar amenizá-las mas proteger completamente seu filho é impossível e até mesmo nocivo para ele:
- o trauma do nascimento, que obriga a mudança de circulação fetal para a respiração normal;
- alterações de temperatura e manipulação, às vezes excessiva, no parto;
- frustrações repetidas e contínuas pela sensação de fome, sede ou cólicas dos três primeiros meses;
- o desmame, que obriga a criança a se separar da mãe ou da mamadeira;
- as tentativas de procurar alcançar um objeto, o que nem sempre ele consegue;
- a de provar um alimento que não agrada ao seu paladar ou tomar um remédio que detesta;
- quando ao colo, tentar mudar de posição ou de lugar, querer mudar de ambiente e não conseguir, pois o adulto não o entendeu. Ela desiste sem sofrimento mas fica frustrada;
- tentativas de pôr-se de pé;
- tentativas de andar sozinho e cair;
- a sensação desagradável da erupção dentária;
- a presença de estranhos e a ausência de pessoas queridas.
As frustrações próprias e inevitáveis, progressivas e repetidas, acabam funcionando como verdadeiras “vacinas” psíquicas, fazendo com que a criança as suporte melhor no futuro. Às vezes as frustrações são impostas pelos pais, e outras, são devidas às iniciativas malsucedidas desempenhadas pela própria criança.
As manifestações de desprazer e de afeto vão se revelando no decorrer da infância e aos poucos vão se transformando em um “código” de comunicação. O bebê provoca os familiares para que o aliviem de algo que o incomoda ou para que ofereçam algo que ele deseja, e pode fazê-lo com sorrisos ou com demonstrações de angústia.
De qualquer forma, o ponto principal a se pensar é que é um erro dar permissividade absoluta para a criança, não a contrariando, fazendo ou deixando todas as suas vontades. Às vezes você “ama tanto seu filho” que acaba deixando ele fazer mais do que pode, mas é errado pensar assim, pois se você realmente “ama tanto seu filho” saberá dizer não na hora certa para que ele se torne um adulto consciente, equilibrado e feliz.